segunda-feira, 5 de março de 2007

Admirável Mundo Novo


Admirável é pouco! Aldous Huxley compõe um quadro futurístico caótico, artificial, alienante, despótico e científico. Juntamente com os livros Laranja Mecânica (Anthony Burgess) e 1984 ( Geroge Orwell), Admirável Mundo Novo "é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX" (nota do livro Laranja Mecânica da editora Aleph, e publicada na orelha da capa).
632 d.F. Londres. Os prédios cinzas, os laboratórios de pesquisa, as pessoas "nascendo" de tubos de ensaio. O soma é uma droga sintética, ingerida por toda a população. Todos são artificialmente felizes. Não há pai, nem mãe (inclusive sendo essas palavras profanas!), e não há Deus. Há um deus, chamado Ford. Não há reflexão, contestação, a poligamia é incentivada e cultivada desde os primeiros anos. A sociedade dividida em Ípsilons, Alfas e Deltas, como perfeitas castas. Toda a noite as crianças escutam uma voz que diz "Cada um pertence a todos", entre outras centenas de frases condicionantes. Já nascem sabendo o que são, para que servem e como são - e o que nunca chegarão a ser. Essa estrutura perfeita e montada com tanto cuidado é balançada com a chegada de John, o "Selvagem". John é filho. Tem pai e mãe. Estava isolado em uma ilha, até que Bernard, visitando a reserva do Novo México (lugar onde habitam os últimos exemplares de selvagens, filhos de pais e mães, afastados do progresso científico) o encontra e o leva para Londres. Na cidade, John se sente confuso com o que vê. E os que o vêem sentem-se, também, confusos. John recita Shakespeare, e ninguém o entende ( ele está entre os autores proibidos pelo governo, por Vossa Fordeza). John mostra sua mãe, e ninguém compreende sua feiúra, sua sujeira, e, menos ainda, a dor de John de perdê-la. O amor não tem espaço nessa sociedade tecnicista e científica.
Escrito em 1932, Admirável Mundo Novo é o tipo de obra que deixa um gosto ruim na boca. O soma, por exemplo, parece-se muito com o ecstasy. A criação massiva em tubos de ensaio parece-se muito com os processos de clonagem. Os prédios cinzas e altos podem ser vistos nas cidades atuais, elevando-se em concreto e cinza. As diferenças de classes - bem, é só olhar ao nosso redor. A indiferença, o preconceito, a ambição, são sentimentos cada vez mais próximos na vida real. A falta de reflexão, de senso crítico, a desvalorização do ser humano, são aparentes na nossa sociedade atual. O que mais assusta ao ler Admirável Mundo Novo não é a ficção. É a sua extrema familiaridade com o mundo real.

Um livro com uma linguagem interessante, muito bem escrito e de temática terrivelmente familiar.
Uma dica para quem quiser comprar o livro: o da editora Globo, da série A Aventura de Ler, foi publicado em papel-jornal - o que favorece muito na hora de pagar pela obra. A média de preço desse livro é de quinze reais, contra os quarenta ou cinqüenta de uma obra impressa em papel branco.
Admirável Mundo Novo (Brave New World)
Aldous Huxley
1932
318 p (versão editora Globo)
Tradução Lino Vallandro e Vidal Serrano

Um comentário:

Clarissa Deggeroni. disse...

Puxa Caroline!!!!!
Admirável Mundo Novo é uma das leituras mais impressionantes que eu já fiz!!!!! Eu li quando era bem nova e fiquei estarrecida!!!!
Se quiseres continuar a postar, eu acherei excelente!
E eu gostaria de recebr informações sobre a literatura portuguesa, me envia pelo e-mail cissa_jornal@hotmail.com.
Abraço!!!